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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ensino Médio é 'um modelo muito antigo e ultrapassado'.


De acordo com o sociólogo Simon Schwartzman, esta fase da educação deveria permitir ao aluno escolher as matérias que prefere estudar. É sabido que o Ensino Médio brasileiro enfrenta uma série de problemas, como evasão escolar, alunos atrasados e baixos níveis de aprendizado. Para o sociólogo, professor, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) e coautor do livro “Uma contribuição pedagógica para a educação brasileira” (Adonis), Simon Schwartzman, a solução passa por um Ensino Médio menos universalista, que permita aos alunos escolherem as disciplinas que gostariam de estudar: “As pessoas não têm como aprender tudo. O ensino médio não dá opção de especialização e acaba virando uma enorme lista de coisas que todo o mundo tem que decorar para passar de ano.”

Quais os desafios do Ensino Médio brasileiro?
Há muito abandono. Esse é o problema mais óbvio. Há muita gente que ou não chega lá ou chega e não consegue completar e larga no meio. Há, também, falta de gente com uma qualificação intermediária no mercado de trabalho. Por que é assim? Tem a ver com a falta de alternativas de formação e com um modelo muito antigo e ultrapassado que domina o Ensino Médio.

Por que é ultrapassado?
Porque está baseado em uma concepção de conhecimento universalista. Todo o mundo tem que conhecer tudo: tem que saber ciências, literatura, história. As pessoas não têm como aprender tudo. O Ensino Médio não dá opção de especialização e acaba virando uma enorme lista de coisas que todo o mundo tem que decorar para passar de ano. Algumas pessoas conseguem, mas grande parte, não. Mesmo para os que conseguem, é uma perda de tempo, porque estão aprendendo muito pouco. Temos um problema muito sério de um formato, que é rígido, e com uma concepção de educação universalista que não funciona.

Quais seriam as mudanças mais importantes a serem feitas no Ensino Médio?
A primeira coisa que se tem que fazer é ter mais opções de formação. O aluno poderia escolher uma formação mais científica, mais aplicada, uma formação mais das ciências humanas. Essas opções devem ser dadas a partir do Ensino Médio. Durante o Ensino Básico ensina-se uma formação comum, basicamente linguagem, conceitos básicos de matemática, noções gerais de ciências, história e geografia. A partir daí, o problema é dar opções. Uma das opções que falta é ter uma formação mais aplicada, ensinar pela via da experiência prática, do trabalho. E não deveria haver uma porta única de entrada para o Ensino Superior.

E qual seria a outra forma?
Há várias maneiras, uma delas é ter uma pluralidade de certificados. Muitos países hoje em dia fazem isso. Ao terminar o Ensino Médio, o estudante pode se qualificar de acordo com o que ele estudou. Se ele fez matérias de ciências exatas ou de ciências humanas ou mais para a área de artes, ele deve adquirir uma certificação desse conhecimento. A universidade, à medida que seleciona os alunos, vê que tipo de formação o aluno teve e quais formações são mais adequadas para cada tipo de curso.

Exigir uma escolha de disciplinas no Ensino Médio não é restringir as opções muito cedo?
Não, acho que aos 15 anos de idade o aluno já está em uma boa época para fazer opções. Não opções profissionais, mas certas opções que ele acaba fazendo na prática. Ninguém aprende tudo aos 15 anos de idade: geografia, física, história, química, biologia, sociologia... O aluno pode dedicar os três anos para aprofundar uns três temas. Temas de interesse do próprio aluno. A escola também vai se especializar naquilo que ela é mais capaz de dar. Se eu quiser fazer um Ensino Médio de artes, vou para uma escola que tenha boa tradição em Ensino Médio de artes.

O senhor acredita que isso diminuiria a evasão escolar?
Acho que sim, à medida que ao aluno faz um curso em que tem mais interesse. Um outro problema, além do interesse, é que se tem uma situação de que muita gente chega ao Ensino Médio com muita deficiência, porque fizeram um Ensino Básico muito ruim, não conseguem ler direito, não aprenderam matemática direito. É ilusório achar que vai recuperar essas pessoas com pequenos cursos de reciclagem.

Há outros modelos no mundo que poderiam servir de exemplo?
O mundo todo faz isso de outra maneira. Primeiro, há uma grande divisão tradicional entre uma formação técnica e uma formação mais acadêmica. A maior parte dos estudantes do mundo inteiro não faz uma opção acadêmica, faz uma opção mais profissional.
Na Inglaterra, há o que eles chamam de A-level (Advanced Level General Certificate of Education), em que o aluno, para ir para a universidade, tem que tirar uma nota alta em três temas, à escolha dele. Conforme o desempenho nessas áreas, ele pode se candidatar à universidade.
Na França, há um exame interno de Ensino Médio, mas há uns dez tipos diferentes, o aluno escolhe qual ele quer fazer. A Alemanha também tem uma avaliação final, mas o aluno escolhe as áreas. Tudo, ao fim do Ensino Médio. Isso dá o certificado de conclusão do Ensino Médio e, ao mesmo tempo, especifica que o aluno terminou o Ensino Médio e tirou determinada nota em determinados assuntos.
Nos Estados Unidos não há cursos diferentes, mas dentro de cada escola há uma série de opções: o aluno pode optar por uma matemática mais dura ou menos dura. Se ele quiser fazer um curso de física, ele vai pegar a matemática mais difícil, se não, ele pega a mais leve e vai fazer outra coisa. Há sempre opções, no Brasil é que não tem.

É possível dizer que o Ensino Médio no Brasil é um curso de preparação para o vestibular?
Ele é um curso preparatório para o vestibular, mas poucas escolas de Ensino Médio, especialmente as públicas, conseguem na verdade preparar. O aluno aprende muito pouco no Ensino Médio. Se pudesse escolher três ou quatro matérias, ele teria tempo de estudar, de pesquisar, de escrever, de discutir com o professor, se reunir com um grupo de trabalho... Se ele precisa fazer 17 matérias, ele vai decorar um pouquinho de cada uma para prestar vestibular e esquecer no dia seguinte.

O senhor conhece alguma alternativa no Brasil?
Existem tentativas de flexibilizar mais. Há o parecer do Conselho Federal de Educação, que aparentemente criaria alternativas, mas se você lê-lo verá que é uma confusão, que nada é dito com clareza.

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